22.10.16

Nota Musical: Call me Joanne


Joanne está, enfim, entre nós! Após mais de três anos de espera, o quinto álbum de estúdio da cantora norte-americana já encontra-se disponível nos sites de streaming e nas lojas especializadas. Mas o que esperar do "pedaço de alma" de Lady Gaga? 


Fluidez. Essa talvez seja a melhor palavra para descrever o LG5. Um álbum simples, sonoro e fluido, ou leve, como preferir. Intitulado com o nome de sua falecida tia que a deixou um legado artístico de quadros e poesias, Joanne expõe uma Gaga jamais vista pelos fãs: de chapéu rosa e botas de cowboy, sua tia se transforma em seu alter-ego e aborda temas não vistos desde Judas, em 2011: seus demônios internos.

O álbum é um reflexo da carreira de sua autora: seus problemas ao lançamento e pós-lançamento de ARTPOP, suas confusões pessoais, as criticas recebidas e as decisões únicas tomadas, diferente de seu antecessor, Joanne não tenta abarcar o mundo entre as pernas ou contar toda a história da arte em três minutos, dessa vez fala-se menos sobre política e muito mais sobre seu íntimo: estamos sob o seu coração.

Ao primeiro segundo após o play é possível sentir a influência direta de Elton John. "Diamond Heart", discorre sobre ter 19 anos e não se importar com nada, pois tudo parece ser divertido. É um reflexo íntimo da sua passagem pelos bares de Nova York. Lady Gaga é pop, mas não super-produzida e nem de longe dançante.

"Joanne" é vulnerável, simplória e dispensa qualquer comentário, pois fala por sí só. Sem nenhum tratamento e similar à uma prévia, o single dá uma facada e agrada os ouvidos daqueles que desejam conhecer uma Gaga real. Bem diferente de Million Reasons, a minha favorita até então e que se assimila as músicas antigas de Taylor Swift, mas com algo mais maduro e íntimo.

"Perfect Illusion" destoa de todo o álbum, mas é perfeitamente posicionado entre a baladesca Dancin' in Circles e a sad girl Million Reasons. "Hey Girl", a colaboração com Florence, traz um pop único e uma letra muito bem pensada e  bastante expressiva aos tempos atuais, encaixada numa melodia que combina perfeitamente as vozes de suas intérpretes.

O álbum se encerra na confusa "Angel Down", que contrasta entre a simples produção melódica e a sofisticada interpretação de Gaga, de longe, a maior do álbum.

Não existiria escolha melhor: É um final intenso e retrata pessoas tão ocupadas que não percebem nem a morte de seus anjos. Talvez a escolha mais certa do álbum, que encontra-se oposto a ARTPOP, inclusive na qualidade.

Joanne está longe de ser um álbum ruim e aproxima-se da perfeição, distanciando-se unicamente por tratar de algo tão exclusivo e próprio. Nuances nem sempre são bem-vindas nesses casos e este é um exemplo claro de pouca harmonia em uma única face.

Após o álbum senti como se tivesse passado uma tarde no parque com Stephanie Joanne e lá tivéssemos compartilhado segredos e ideias. Não se trata de algo genérico, tão visto nos últimos anos, é algo próprio e singular. Vale a curiosidade.


Nota: 60/100.

Ouça:




Lucas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário